Com base em dados da Organização Mundial da Saúde e de 119 estudos, cientistas de 19 centros de pesquisa constataram que, de 1990 a 2010, a taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) caiu tanto em países ricos como naqueles em desenvolvimento. O artigo, publicado no periódico The Lancet, mostra que o AVC, quando dá as caras, já é mais bem enfrentado. “No Brasil, só 35 hospitais estavam preparados para lidar com vítimas desse problema em 2008. Hoje são mais ou menos 130. O atendimento emergencial, que envolve medicação e cuidados específicos, como controle rígido da pressão e da glicose, melhorou muito por aqui”, ressalta Sheila Martins, chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital de Vento, em Porto Alegre.
Agora há um enorme “mas”: o número absoluto de derrames continua subindo. E o de mortes também. Não, isso não é contraditório com a notícia anterior. A queda na taxa de mortalidade indica que, como o atendimento foi aprimorado, a proporção de gente que sofre um AVC e morre diminuiu. No entanto, os episódios são tão mais frequentes que uma proporção menor não quer dizer um número menor. Parte desse panorama se deve ao envelhecimento da população. Contudo, um alvo particular chama a atenção: as vítimas mais jovens.
Segundo o levantamento divulgado pelo The Lancet, em duas décadas os AVCs no planeta aumentaram 25% entre indivíduos de 20 a 64 anos. E, de acordo com estatísticas do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) 26.572 pacientes foram internados por essa causa em 2000 – em 2013, o número atingiu a marca de 37.424.
Alimentação desequilibrada, sedentarismo, obesidade, depressão e estresse crônico são mais comuns atualmente, mesmo em pessoas jovens. Esses fatores contribuem para a fragilização dos vasos sanguíneos no cérebro, abrindo portas para o temido AVC. Se fossem evitados, e se combatêssemos o tabagismo, a hipertensão, o diabete, o colesterol alto e a fibrilação arterial (um tipo de arritmia cardíaca), cerca de 90% dos derrames poderiam simplesmente não acontecer.
Detalhe: quando acomete pessoas abaixo dos 50 anos, o AVC não raro é confundido com outros problemas, como vertigem, dor de cabeça e intoxicação alcoólica. Por isso, pode não ser diagnosticado e tratado adequadamente.
O alerta vermelho também soa para o sexo feminino. De acordo com uma diretriz lançada pela Associação Americana de Derrame, 3,8 milhões de todas as mulheres vivas nos Estados Unidos e 3 milhões de homens tiveram um AVC. “Parte disso se deve ao fato de que elas vivem por mais tempo do que eles”, pondera Maurício Friederich, neurologista-chefe do Instituto de Medicina Vascular do Hospital Mãe de Deus, na capital gaúcha. “Mas as mulheres passam por situações únicas que, sem os devidos cuidados, podem aproximá-las do problema”, alerta.
A gestação, por exemplo, precisa ser acompanhada de perto para não criar condições propícias ao perigo no futuro. Mudanças hormonais dessa fase elevariam a probabilidade de pressão alta e de formação de placas nas artérias.
O uso de anticoncepcionais orais também exige atenção e orientação médica – e está contraindicado para hipertensas e fumantes, em especial se elas costumam reclamar de enxaqueca. Isso porque os comprimidos facilitam a aparição de trombos, que podem viajar para a cabeça e, então, obstruir uma artéria, Raciocínio parecido se aplica è terapia de reposição hormonal. Geralmente receitada para aliviar sintomas da menopausa, só deveria ser administrada a mulheres sem quaisquer fatores de risco, caso contrário seu uso pode comprometer os vasos que irrigam o cérebro.
Até mesmo a mente feminina pode favorecer o derrame, já que as mulheres são mais propensas à depressão, ou pelo menos relatam sofrer mais com esse quadro quando comparadas aos homens. A pessoa deprimida se cuida menos, e o AVC pode encontrar boas condições para ocorrer.
Entre as táticas preventivas podemos destacar: o conhecimento e uso de técnicas ou situações que promovam o relaxamento mental, a prática de atividades físicas, boas noites de sono, cuidados com a alimentação (maneirar em produtos cheios de açúcar e gordura saturada, sódio e colesterol), evitar pancadas (choques na cabeça e no pescoço) e, claro, fugir de vícios como tabagismo e alcoolismo.
Também é bom lembrar sobre a importância da marcação de consultas para conferir se problemas como hipertensão e diabetes estão à espreita ou já instaladas.
A prevenção do AVC exige de qualquer cidadão seguir o tão aconselhado estilo de vida saudável. Cercando o inimigo por todos os lados, você praticamente se livra do risco de integrar as estatísticas que dão fama à sigla.
Fonte: Saúde é Vital