Entre tantas prescrições, conselhos e avisos que a grávida recebe, não é incomum que os cuidados com a tireoide fiquem em segundo plano. Pois não deveriam: de 6% a 9% das futuras mães sofrem de hipotireoidismo e não sabem disso. O déficit na produção dos hormônios T3 e T4 compromete seriamente a evolução neurológica do bebê. “Além disso, há maior risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer, aborto e morte fetal”, lista o médico José Augusto Sgarbi, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolologia – Regional São Paulo. O tópico é tão sério que a entidade está para lançar um consenso para o diagnóstico e o tratamento das disfunções de tireoide na gravidez. “Entre as novidades, pediremos o rastreamento de problemas na glândula logo no trimestre inicial da gestação”, adianta Sgarbi. E fica o convite para as mulheres investigarem se anda tudo bem com a tireoide, antes mesmo de engravidar.
Listamos, a seguir, outras seis pontos que mostram a importância de prestar atenção em desordens tireoidianas nessa fase da vida.
Existem situações em que a grávida precisa acionar ainda mais o alerta: ter idade superior a 35 anos, estar acima do peso, apresentar histórico de diabete, portar doenças autoimunes, ter usado o remédio levotiroxina… Tudo isso está associado à maior probabilidade de a tireoide derrapar em seu trabalho. Se for diagnosticado um problema ali, a gestante deve também ser acompanhada por um endocrinologista. O tratamento, segundo os especialistas, é seguro para a mãe e para o feto.
O bisfenol A, substância presente em alguns recipientes plásticos e que vem sendo abolida pela indústria, é capaz de desregular a tireoide durante a gravidez, mesmo em baixas concentrações. É o que acusa uma pesquisa com ratos concluída pela Universidade Federal de São Paulo. Priorizar potes de vidro e evitar levar os de plástico ao micro-ondas podem ser medidas que ajudem a minimizar esse risco.
A presença de hipotireoidismo na gestação eleva em quatro vezes a probabilidade de o bebê nascer autista, revela um estudo do Instituto Neurológico Metodista de Houston, nos Estados Unidos, e do Centro Médico Erasmus, na Holanda, que analisou mais de 4 mil grávidas. Para diminuir o risco, é aconselhável tratar esse distúrbio da tireoide, asseguram os autores da pesquisa.
Quando o hipotireoidismo passa de mãe pra filho (afinal, os genes também entram na história), sobra até para a audição do pequeno. E, sem o desenvolvimento pleno desse sentido, a criança vai enfrentar dificuldades para se comunicar e compreender o que se aprende na sala de aula. O alerta vem de um trabalho da Universidade Federal da Bahia que, após avaliar 37 meninos e meninas com hipotireoidismo, mostrou que quase um terço deles não ia bem na escola.
Um levantamento da Associação Europeia de Tireoide constatou que as mamães correm um risco sete vezes maior de ter hipotireoidismo logo após dar à luz. E os sintomas, nesse caso, não raro se confundem com os da depressão. Uma das explicações para o fenômeno é que o sistema imune, que fica menos ativo na gestação, volta a trabalhar com tudo após o nascimento do bebê. E, aí, pode agredir a glândula no pescoço, que deixa de funcionar como antes.
O hipertireoidismo, quando a glândula fabrica hormônios demais, também demanda muito cuidado durante os nove meses de gravidez. Médicos afirmam que o excesso de T3 e T4 aumenta o risco de aborto e malformações fetais. Uma pesquisa do Instituto de Educação e Pesquisa Médica da Índia ainda elenca outras ameaças quando esse quadro não é controlado: maior possibilidade de a gestante encarar pré-eclâmpsia (a escalada da pressão nessa fase), diabete e entraves ao crescimento do útero.
Fonte: M de Mulher